Na
tarde de ontem, dia 09 de outubro, o poeta FERREIRA
GULLAR foi eleito, em primeiro escrutínio, o mais novo “imortal”, membro da
Academia Brasileira de Letras. Ele vai ocupar a cadeira de nº 37, que pertenceu
ao poeta e tradutor Ivan Junqueira, morto em junho deste ano. Essa mesma
cadeira já pertenceu a Silva Ramos (fundador), Getúlio Vargas, Chateaubriand e
João Cabral de Melo Neto.
Num
total de 37 votos, 36 elegeram Gullar e um foi em branco. Os outros candidatos eram Ademir Barbosa Júnior, José Roberto Guedes
de Oliveira e José William Vavruk, que poderão candidatar-se posteriormente, já
que existem duas cadeiras vagas, portanto, passíveis de eleições, que são as
deixadas pelos “imortais” João Ubaldo Ribeiro
e Ariano Suassuna, mortos duas semanas após Junqueira.
A
eleição para a cadeira deixada por João Ubaldo está marcada para o dia 23 de
outubro. Já a que pertenceu a Suassuna acontecerá no dia 30 do mesmo mês. Quem
também vai concorrer uma vaga, e, segundo informações é um dos favoritos é o
escritor Zuenir Ventura.
A
posse de Gullar acontecerá possivelmente no fim de novembro ou início de
dezembro do ano em curso. Ele disse está muito feliz com a eleição, apesar de
já esperar o resultado, pelo que os acadêmicos lhe disseram. “Mas
na hora que acontece é diferente. Vira realidade mesmo, deixa de ser promessa”.
Confidenciou.
“Foi uma eleição
muito generosa. Ele foi escolhido com muito carinho. Foi um ingresso
auspicioso. Ele entra nessa casa com sua poesia. O acolhemos com muita
galhardia. Ele está entrando na instituição presidida por Machado de Assis”,
disse a imortal Nélida Piñon, durante a tradicional queima de votos após a
eleição.
Nascido
em 10 de setembro de 1930, em São Luis do Maranhão, Ferreira Gullar é um dos mais aclamados autores brasileiros vivos.
É o pseudônimo de José Ribamar Ferreira.
Publicou seu primeiro livro “Um pouco
acima do chão” aos 19 anos de idade. Dentre suas principais obras estão: “A luta corporal” (1954), “Dentro da noite veloz” (1975), “Poema sujo” (1976) e “Na vertigem do dia” (1980). Seu mais
recente é “Em alguma parte alguma”,
que ganhou o prêmio jabuti de Livro do ano em 2011.
Minha
ligação com a poesia de Gullar veio através da musica de Fagner. O poema traduzir-se, transformado em canção,
gravada no ano de 1981, foi e ainda é grande sucesso na voz do cearense. Eis o
poema:
TRADUZIR-SE
Ferreira Gullar
Uma parte de mim
é todo mundo
Outra parte é
ninguém fundo sem fundo
Uma parte de mim
é multidão
Outra parte
estranheza e solidão
Uma parte de mim
pesa e pondera
Outra parte
delira
Uma parte de mim
almoça e janta
Outra parte se
espanta
Uma parte de mim
é permanente
Outra parte se
sabe de repente
Uma parte de mim
é só vertigem
Outra parte
linguagem
Traduzir uma
parte na outra parte
Que é uma
questão de vida e morte
Será arte?
Outro belo poema de GULLAR,
transformado em canção e gravada pelo cearense Fagner no ano de 1984 foi “Cantiga pra não morrer”. Confiram:
CANTIGA PRA NÃO MORRER
Quando
você for se embora
Moça
branca como a neve, me leve.
Se acaso você não possa me carregar pela mão,
menina branca de neve me leve no coração.
Se no coração não possa por acaso me levar,
moça de sonho e de neve, me leve no seu lembrar.
E se aí também não possa por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento, menina branca de neve,
me leve no esquecimento.
Se acaso você não possa me carregar pela mão,
menina branca de neve me leve no coração.
Se no coração não possa por acaso me levar,
moça de sonho e de neve, me leve no seu lembrar.
E se aí também não possa por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento, menina branca de neve,
me leve no esquecimento.
Ferreira
Gullar
Mesmo distante,
nossos mais sinceros cumprimentos ao novo “imortal” com votos de paz, saúde, êxito
e muita, muita poesia.
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